Lançamentos de Novembro - Companhia das Letras.


Natal, Ano-Novo, tempo de balanço pessoal, de renovação. Sentimentos um tanto ambíguos se alternam, quando a eletricidade pelo encerramento de mais um ciclo vem acompanhada de inefável melancolia. Esse é o espírito evocado pelos poemas de Carlos Drummond de Andrade, selecionados por Luis Mauricio Graña Drummond e Pedro Augusto Graña Drummond, neste Receita de Ano-Novo. Com projeto gráfico exclusivo e ilustrações de Andrés Sandoval, colaborador de publicações como piauí e The New Yorker e autor de Socorram-me em Marrocos (Companhia das Letrinhas), Receita de Ano-Novo é um brinde - muito drummondiano, pois - ao final do ano. Boas festas!









É vasta a bibliografia sobre a abolição. Já foram discutidas suas causas econômicas, as resistências judiciais e cotidianas de que foi alvo, as revoltas e as fugas de escravos. Ainda não foi plenamente reconhecida, contudo, a relevância do movimento abolicionista. Joaquim Nabuco, um de seus líderes, atribuiu a libertação dos escravos à magnanimidade da casa imperial. No centenário da Lei Áurea, em 1988, estudiosos e ativistas do movimento negro contestaram essa versão e ressaltaram a resistência dos cativos, operando apenas uma inversão de sinal: em vez da liderança da dinastia, o protagonismo dos escravos; em vez da princesa Isabel, Zumbi. Esse deslocamento deixou à sombra um fenômeno que não foi nem obra de escravos, nem graça da princesa: o movimento pela abolição da escravidão. Este livro conta sua história. Reconstrói a trajetória da rede de ativistas, associações e manifestações públicas antiescravistas que, a exemplo de outros países, conformou um movimento social nacional - o primeiro no Brasil do gênero. O movimento elegeu retóricas, estratégias e arenas, operando sucessivamente com flores (no espaço público), votos (na esfera político-institucional) e balas (na clandestinidade), num jogo que se estendeu por duas décadas, de 1868 a 1888. Tudo isso é narrado por meio da trajetória de ativistas nacionais decisivos para o desfecho da empreitada: André Rebouças, Abílio Borges, Luís Gama, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco - três deles negros.

A abolição não se faria por si, pelo desenvolvimento da economia ou por decisão solitária do sistema político, como não se fez por canetada da princesa. É a relevância do movimento abolicionista para o fim da escravidão que este livro mostra de forma brilhante. A luta pela libertação dos escravos dividiu águas na história do país - investigar sua natureza é também compreender um processo que ainda reverbera nas formas contemporâneas da desigualdade no Brasil.







Quando tinha doze anos, Luiz Alberto Mendes fugiu de casa pela primeira vez. Filho de pai alcoólatra e de dona Eida, vivia num ambiente de brigas intermináveis e de opressão. Aos dezenove foi preso, acusado de assalto e homicídio. Primeiro passou pela Febem, atual Fundação Casa, depois, já adulto, cumpriu pena em várias casas de detenção. Em 1984, fugiu e foi recapturado. Quase dez anos depois, vivendo em regime semiaberto, com um pé na liberdade e outro no sistema prisional, foi detido em flagrante por roubo. Em um dos pontos altos deste livro, o autor narra a fuga repleta de tensão, imprevistos e erros, que culminaram no cerco da polícia.

Faltando pouco para alcançar a liberdade definitiva, teria que amargar mais alguns anos na cadeia. Mas dessa vez o anti-herói deste relato autobiográfico tinha um bom motivo para viver à margem das confusões e dos grupos radicais: agora era pai de Renato, fruto do casamento com Irismar. Enquanto esteve preso, trabalhou no setor jurídico, em um grupo espírita, nos Correios, foi professor e até produziu bichinhos de pelúcia. Passou por muitas celas, foi transferido para diferentes presídios, e cada mudança representava um recomeço: impor-se diante dos colegas, conhecer as regras, conquistar privilégios e arrumar um emprego para sustentar a família. "Confissões de um homem livre" encerra a trilogia que começou com e foi seguida de Às cegas. Assim como nos outros livros, o seu relato do mundo do crime é um dos poucos que não doura a pílula. O discurso é seco, nervoso e direto. Sua honestidade, desconcertante. E são essas qualidades que aparecem de modo mais contundente nesta história sobre os anos que antecederam a sua liberdade.






Depois de surpreender a todos com sua verve poética, em Ligue os pontos, e de se consolidar como um dos mais inventivos cronistas brasileiros da nova geração, com Put some farofa, o aclamado ator e roteirista do Porta dos Fundos revela nova face de seu talento. Com influência de Millôr, Sempé, Steinberg e de sua avó Ivna, Gregório Duvivier nos oferece dezenas de desenhos inéditos de nanquim e aquarela, que conciliam o lirismo, a irreverência e o engenho já familiares a seus fãs. Em um passeio pelo repertório cultural do autor, vemos reinventadas vida e língua cotidianas. A originalidade e o frescor de Gregório estão de volta, dessa vez para enriquecer a tradição de nosso humor gráfico.






Em 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra proíbe os jogos de azar no Brasil. A decisão gerou uma legião de desempregados e um grande contingente de boêmios carentes. Os cassinos fecharam, mas os profissionais da noite logo encontraram um novo ambiente- as boates de Copacabana. Em vez das apresentações grandiosas, as boates favoreciam a penumbra, a intimidade, o romance. Assim como a ambience, a música baixou de tom. Os músicos voltaram aos palcos, mas em formações menores, tocando quase como um sussurro ao ouvido. Essa nova música, as boates e o contexto que fez tudo isso possível são o tema do novo livro de Ruy Castro, que mais uma vez nos delicia com sua prosa arrebatadora.




 Na Europa após a Segunda Guerra, em meio a uma paisagem de escombros, figuras esqueléticas e quase absoluto desamparo social e psicológico, uma menina e um homem perambulam por entre as ruínas. A menina é Hanna, tem catorze anos, é portadora de uma doença congênita e está em busca do pai; o homem é Marius, sujeito enigmático que parece se esconder do próprio passado. Essa improvável dupla protagoniza Uma menina está perdida no seu século à procura do pai.

Desprotegida, com dificuldades de comunicação, Hanna carrega uma caixa repleta de fichas com uma espécie de curso, com atividades e perguntas, e é a partir delas que se lança num questionamento sobre o que é o ser humano - muitos dos objetivos de aprendizagem são difíceis de serem atingidos até por pessoas sem deficiência mental. Junto com Marius ela vai parar em um estranho hotel em Berlim: os quartos não têm números, mas carregam os nomes dos campos de concentração que, pouco tempo antes, foram o palco do inferno para milhões de pessoas. Quando Marius pergunta por que fazem aquilo, a dona do hotel responde: “Porque podemos. Somos judeus”.

Este novo romance de Gonçalo M. Tavares ganha contornos fantasmagóricos e irônicos típicos do autor português, que, avesso às convenções do gênero, constrói aqui um retrato a um só tempo abstrato e absolutamente tocante sobre as verdadeiras vítimas da guerra: as pessoas comuns, aquelas mais fragilizadas, que de repente se veem à margem de todos os acontecimentos. Há algo de calculado mistério ao longo de todo o romance, porém a ousadia não é pretexto para estéreis jogos formais. Com maestria, o autor apresenta a vida de seus personagens com intensidade, empatia e um gosto quase inesgotável para capturar os detalhes mais inesperados da vida de cada um.






Primeiro livro da trilogia As areias do Imperador, Mulheres de cinzas é um romance histórico sobre a época em que o sul de Moçambique era governado por Ngungunyane, o último grande líder do Estado de Gaza. Em fins do século XIX, o sargento português Germano de Melo foi enviado ao vilarejo de Nkokolani para participar da batalha contra o imperador que ameaçava o domínio colonial. Lá, ele encontra Imani, uma garota local de quinze anos que lhe servirá de intérprete. Enquanto um dos irmãos da menina lutava pela coroa de Portugal, o outro se uniu aos guerreiros tribais. Aos poucos, Germano e Imani se envolvem, apesar de todas as diferenças entre seus mundos. Porém, num país assombrado pela guerra dos homens, a única saída para uma mulher é passar desapercebida, como se fosse feita de sombras ou de cinzas.






Personagem imortal da literatura, o menino Mowgli foi achado na selva e criado por uma loba. Para viver na floresta, ele precisava aprender mais do que caminhar sem fazer ruído ou enxergar no escuro. Sua forma humana, que de início parecia uma desvantagem, ajudou a transformá-lo em um caso único. Mowgli somou a sabedoria dos lobos e a inteligência dos homens para viver uma infância repleta de aventuras e descobrimentos. Muitos especialistas consideram Os livros da selva uma contraposição do universo infantil à vida adulta do trabalho. Ao longo de diversos contos, a sofisticação narrativa de Kipling e de seus personagens é capaz de emocionar leitores de todas as idades.

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